Leonardo Dias

O objetivo deste espaço é implementar a discussão acerca das atualidades de nosso país. Política, Economia e Futebol (Esporte Clube Bahia) serão os temas mais abordados. Por mais que possa não parecer, esses assuntos estão extremamante integrados. Confira! (05/09/2005)

Arena e o aumento da exclusão (14/12/2007)


VERDADEIRO TORCEDOR DO BAHIA, ESSENCIALMENTE POBRE, QUE DEIXA DE SE ALIMENTAR PARA IR AO ESTÁDIO, ESTARÁ ETERNAMENTE PROIBIDO DE FREQUENTAR A FONTE NOVA (ARENA)!

O governador decretou: o estádio da Fonte Nova será demolido.

Isso já estava decidido desde muito antes da tragédia ocorrida no domingo. Uma "decisão" que causou polemica nas ultimas semanas, e que fez com que o governo ficasse em cima do muro, e cogitando até recuar na decisão, pois até então, segundo a população, demolir a Fonte Nova, significava "destruir a historia', "destruir um patrimônio dos baianos". Ou seja, o respaldo da opinião publica para que isso ocorresse até então não existia.

A maior tragédia ocorrida em um estádio de futebol brasileiro será o argumento fundamental que faltava para que o Governo do Estado referende e agora, paradoxalmente com o apoio popular aquilo que estava previamente estabelecido. Especialistas em marketing eleitoral já foram consultados sobre como se deve dar o "espetáculo da demolição". Ficou decidido que o presidente Lula juntamente com o Governador apertará o botão que dará inicio a implosão

Perguntamos se construir a tal arena esportiva, cujo projeto prevê a implantação de Shopping Center's, McDonalds, cinemas e motéis, é uma demanda específica dos torcedores que costumam freqüentar a Fonte Nova. A consecução desse projeto é uma demanda do povo da Bahia ou visa atender a necessidade de exploração da iniciativa privada do que até então é publico, e portanto do povo?

O governo já declarou que o projeto com um orçamento em torno de R$ 300 a R$350 milhões será executado através de uma PPP- Parceria publica Privada. Além de subsidiar o capital privado investido, o governo irá entrar com recursos para reduzir o risco privado em obras que não são vistas como auto-sustentáveis ou cujo processo de maturação é indefinido.

Não é necessário entrar no debate acerca dos benefícios e malefícios das PPP's, mas vale ressaltar que ideologicamente este partido que atualmente representa o Governo Estadual e Federal, enquanto partido de oposição, sempre foi contra. O argumento clássico sempre foi o de que as PPP's atenderiam a uma lógica perversa de reprodução do capital, onde o estado impulsionaria uma nova ou até "pior forma de privatização", pois os contratos poderiam durar décadas.

Neste sentido, causa estranheza perceber que as concepções agora são outras e que o pragmatismo exagerado como foram conduzidos esses primeiros 11 meses (quase 25 %) de governo do PT na Bahia, sem acenar com nenhuma expectativa de mudança, deixa claro que o único projeto que existiu e existe, é o de se manter no Poder.

O ambiente democrático deve traduzir a aspiração do povo ao passo em que esta se traduz num aparelho institucionalizado pelo Estado, que convencionalmente cumpre princípios padrões das demandas sociais, uma vez que tais demandas devem ser comparadas e avaliadas diante de uma viabilidade técnica de alocação de recursos escassos.

"Elitizar" o acesso aos estádios de futebol é a intenção subliminar. Retrair o publico através do aumento no valor dos ingressos é admitido como uma forma "plausível" de "resolver o problema" que é o elevadíssimo número de torcedores que costumam lotar a Fonte Nova. Só entrará quem pode pagar caro. O povo que se contente com seu radinho.

Não é necessário dizer, que caso essas expectativas venham a ser confirmadas, estaremos mais uma vez caminhando na contra mão da nossa historia e rumo ao regresso de uma sociedade mais justa e igualitária.

Há de se perguntar até quando vamos permitir passivamente a concretização desse projeto de alastramento da exclusão social em salvador, na nossa Bahia, no nosso Brasil?

Carecemos de um projeto construído de forma publica com a participação efetiva de todas as torcidas, do Bahia, do Vitória - patrimônio maior. Não podemos nos esquecer nunca que o direito de torcer é do povo, é da massa.